Gosto de olhar para as coisas. Gosto de pintar e desenhar as coisas que vejo e as coisas que penso e imagino.
A realidade é dotada de uma beleza e complexidade infindáveis. Pintar e desenhar permitem-me dissecar algo durante horas, compreender melhor a sua natureza, os fenómenos da luz que incide, a estrutura de um corpo.
Eu experimento a pintura e o desenho como um exercício cognitivo, uma espécie de exercício de detetive. Faço uma série de decisões, perguntas e respostas que me levam a uma representação fidedigna do que quero representar. Isto é maior que aquilo?Mais escuro mais claro? Porque é que esta cor é mais quente do que aquela? Esta porção está em luz ou está em sombra?
A emotividade e o apresso expressam-se no assunto, na composição e no que sinto ao ver aquela peça terminada. Contudo a execução é marcada pelo estudo e treino.
As minhas ideias surgem-me geralmente na forma de uma composição nítida. O meu caminho tem sido marcado por um estudo que me torne cada vez mais capaz de realizar essas ideias, sem que sinta que estou a sacrificar a peça em prol das minhas limitações técnicas. Se fechar os olhos consigo ver nitidamente ideias que tive e não concretizei, quadros numa exposição, como a que vê agora à sua frente.
Para exemplificar, pense num poema.
Por muito eloquente e emotivo que seja um poema, ele não poderia ser escrito sem o conhecimento que implica a conjugação de letras em palavras, palavras em estrofes. Sinto-me ainda uma criança a aprender os termos básicos de uma língua.
Quero saber dizer pêssego e escrever pêssego, alguém ler pêssego e estar tudo certo, saber expressar o que quis expressar.
Querer dizer pêssego e saber apenas escrever pessego, é algo demasiado frustrante. Pode acontecer que o leitor perceba a que fruto me refiro, mas soluça na experiência da minha gaffe não propositada, e eu expressei algo que não quis.
Esta exposição é uma compilação de estudos, exercícios e algumas tentativas de realizar as minhas ideias. meu apreço pela realidade natural.
MARIANA CAMPOS 2021